As consequências da mentira no currículo
As consequências da mentira no currículo
Na ânsia de corresponder ao perfil exigido para preencher uma vaga, alguns candidatos acrescentam, omitem ou exageram sobre suas habilidades técnicas e comportamentais. Essas inverdades costumam ser desmascaradas pelos recrutadores, mas causam má impressão e geralmente resultam na desclassificação do processo seletivo. Fora o fato de perder a oportunidade de trabalho ou de promoção, o profissional que tenta enganar o selecionador pode sofrer um desgaste na sua imagem frente ao mercado de trabalho, adverte Henrique Maia Veloso, administrador de empresas com ênfase em recursos humanos e autor do livro Estresse Ocupacional.
— Uma atitude como essa pode significar a perda de oportunidades e fechar mais de uma porta. As empresas se comunicam entre si para checar informações e até encaminhar pessoal — adverte Veloso.
O que diz a lei: A mentira no currículo pode ter duas implicações legais, explica o juiz Eduardo Duarte Elyseu, da 1ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. No âmbito da relação trabalhista, caracteriza a hipótese da dispensa por justa causa — quando se comprova o ato de má-fé contra o patrimônio do empregador, de fraude com o intuito de obter um proveito próprio.
— É uma falta grave, que quebra a confiança necessária para a manutenção do vínculo de emprego. Além disso, o profissional que mentiu prejudica também os outros candidatos que disputavam essa vaga, no caso em que a inverdade atestada ser requisito para o exercício da função — explica o juiz.
Principais mentiras
Formação acadêmica — Incluir cursos que não foram concluídos ou sequer realizados. Há casos até de diplomas falsos, por isso algumas empresas exigem os certificados.
Idioma estrangeiro — Quando o candidato tem conhecimento básico e diz ser avançado, por exemplo. É uma das mais comuns e mais fáceis de serem desmascaradas. Muitas empresas fazem perguntas no idioma em que o candidato alega ter fluência.
Experiência — O candidato diz ter atuado em uma área que não conhece.
Acréscimo de atribuições no cargo anterior — Dizer que fez parte de projetos nos quais não se envolveu e incluir funções que jamais foram desempenhadas. Há também candidatos que dizem ter desenvolvido sozinhos um projeto que, na verdade, foi realizado em grupo.
Supervalorização de cargos e funções — Para demonstrar experiência ou pleitear salário mais alto, o candidato troca o "estagiário" por "assistente" no currículo, por exemplo.
Salário anterior — Alguns alegam que o salário anterior era mais alto — para tentar aumentar a renda — e outros dizem ter sido mais baixo — por medo de o futuro empregador não cobrir a oferta.
Maior tempo de permanência na antiga empresa — Por receio de causar a impressão de ser o tipo de profissional que não para nas empresas, o candidato mente que permaneceu por mais tempo.
Curso de informática — Dizer que domina determinadas ferramentas quando detém apenas conhecimento básico.
Garantia de mobilidade e flexibilidade — Dizer que tem disponibilidade para viajar ou mudar de cidade, por exemplo.
Endereço — Alguns candidatos avaliam que a proximidade com a empresa facilitará a contratação, ou sentem vergonha de morar em bairros mais humildes.
Estado civil — Para determinados cargos que exigem maior mobilidade, o profissional solteiro pode ter preferência. Em outros casos, os casados podem ter preferência por, teoricamente, terem tendência de assumir um compromisso maior com o trabalho.
Idade — Determinadas funções pressupõem que profissionais mais velhos ou mais jovens sejam mais adequados ao cargo.
Motivo de desligamento — Por medo de causar má impressão, alguns profissionais escondem que foram demitidos do emprego anterior.
Datas de entrada e saída de empregos — Para não parecer que estão há muito tempo desempregado, alguns candidatos esticam o tempo de permanência no trabalho anterior.
Trabalho voluntário — Sabendo que as empresas valorizam o voluntariado, há quem invente ter se envolvido em projetos sociais.
Experiência no Exterior — Com o mercado de trabalho cada vez mais globalizado, alguns candidatos dizem ter feito um intercâmbio ou trabalhado em empresas fora do país.
Fontes: Leandro Vieira, diretor-executivo da Administradores.com, Henrique Maia Veloso, administrador de empresas com ênfase em Recursos Humanos, Cesar Rego, gerente regional sul da Hays Recruiting Experts Worldwide e Eduardo Duarte Elyseu, juiz da 1ª Vara do Trabalho de Porto Alegre